quinta-feira, novembro 02, 2006

Tocou no céu do Tibete e morreu by Jornal 24 Horas.


João Garcia viu o amigo morto e teve de abandonar o corpo 7 mil metros de altitude.

Faltavam pouco mais de 300 metros para Bruno Carvalho finalmente descansar e se aquecer. À sua espera já estava uma chávena de chá quente, preparada pelos amigos e colegas de expedição João Garcia eRui Rosado. Um chá que o jovem alpinista português já não iria beber: morreu, devido a uma queda, momentos após ter conquistado o cume da 14.ª montanha mais alta do mundo.
Bruno, 31 anos, tinha finalmente conseguido cumprir o sonho: escalar até ao cume do Shisha Pangma, no Tibete, uma montanha de 8.013 metros.
Mas a descida aos 7.300 metros, na terça-feira à tarde, acabou por ser fatal para o jovem português, depois da grande conquista realizada juntamente com João Garcia e Rui Rosado, que o acompanharam ao cume.
Foi o amigo João Garcia que o encontrou já morto na neve.
“Vinha com um atraso de uma hora, hora e meia, o que é normal numa expedição destas, uma vez que cada um tem o seu ritmo próprio. Estranhando a demora, João Garcia e Rui Rosado, que preparavam já chá para Bruno, saíram das tendas e foram encontrar o companheiro de expedição já sem vida, vítima de uma queda, apenas a 300 metros do sítio onde ia dormir e celebrar mais uma vitória”, contou o jornalista da SIC Aurélio Faria, que acompanhou os expedicionários ao Tibete, assim como Ana Silva e Hélder Santos, que fecham o grupo dos quatro alpinistas. Este grupo está a participar na expedição patrocinada pelo Millennium BCP, que começou a 16 de setembro.
Além do choque provocado pela perda do amigo, João Garcia e Rui Rosado foram ainda forçados a confrontar-se com a terrível sensação de terem de abandonar o amigo.
Seria praticamente impossível, àquela altitude e naquelas condições atmosféricas, conseguir
transportar o corpo.
As razões que levaram à queda do experiente alpinista ainda são desconhecidas e agora resta saber quando o corpo de Bruno será resgatado. E se isso será sequer possível.
Em causa estão as más condições atmosféricas na região com violentas temperaturas
negativas. “São situações muito complicadas onde o factor risco é muito elevado. O número de acidentes mortais é enorme na alta montanha”, explicou Francisco Silva, presidente da Associação de desportos de Aventura Desnível, também amigo de Bruno há mais de dez anos.
Consternado com a notícia, Francisco explicou que os meios de resgate, nomeadamente os aéreos, só podem ir até aos 5.000 metros, e que a partir daí é sempre muito complicado. “Resta contratar sherpas (guias locais) para irem até ao local do acidente, mas isso também depende das condições climatéricas”, disse.
Mário Pires, também alpinista e amigo de Bruno, defendeu que neste momento será dificil resgatar o corpo do colega de aventuras. “É um risco enorme tirar de lá o corpo. Neste momento o mais importante é eles descansarem e pensaram antes de agir”, defendeu.
No acampamento, os colegas de expedição estão em estado de choque com a morte do colega. “É um ambiente de consternação, porque o Bruno era a alegria do campo-base. Era o mais expansivo e o mais extrovertido do grupo. Toda a gente sente a sua falta”, descreveu o jornalista da SIC.
Esta já era a terceira expedição que Bruno fazia em conjunto com o amigo e exprofessor de alpinismo João Garcia.Mas para esta o desafio era maior. Passar a barreira dos sete mil metros e atingir um feito que só mais outros dois portugueses tinham conseguido alacançar.
Conseguiu atingir o pico do Mundo e cumprir o sonho. Tocou no céu e lá ficou...

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