quinta-feira, outubro 26, 2006

Afinal quem fala a verdade(2ª parte)?by Jornal 24 Horas.

Acusação de plágio contra Miguel Sousa Tavares é uma treta

Publicada em 26/10/2006

Pronto, já só falta o tribunal e a paulada...

A polémica toda começou quando um blogue anónimo lançou a acusação de que o mega-sucesso de vendas “Equador”, de Miguel Sousa Tavares não passava de uma cópia de um também sucesso, mas dos anos 70, de nome “Esta noite, a liberdade”.
Miguel Sousa Tavares rebateu as acusações, mas o autor do blogue não ficou satisfeito.
Actualizou o blogue e desafiou os leitores a, eles próprios, fazerem a comparação entre as duas obras.
Caso surgissem provas que explicassem a cópia, então o autor identificava-se publicamente e aceitaria defrontar em tribunal Miguel Sousa Tavares.
Ora nós cá no 24horas não viramos costas a um bom desafio. Munidos das referências bibliográficas, fomos à Biblioteca Nacional e resgatámos a edição de 1976 de “Esta noite, a liberdade” do Círculo de Leitores, a única tradução em português que existe. Depois, lado a lado com o “Equador”, toca de encontrar (ou não), as semelhanças.
A personagem principal de “Esta noite, a liberdade” é Luís Francis Mountbatten, último vice-rei da Índia, que existiu mesmo.
Já o Luís Bernardo Valença de “Equador”, governador civil de São Tomé e Príncipe, é fruto da imaginação do autor.
O blogue afirma que as duas personagens consideraram os convites que receberam como absurdos. Mas esqueceu-se de dizer que enquanto Mountbatten não queria aceitar o cargo por achar que era uma missão impossível e sem esperança, Luís Bernardo achava que representava o isolamento total.
Os factos e personagens que surgem em “Esta noite, a liberdade” são todos reais, enquanto no livro de Sousa Tavares há um misto de ficção com realidade.
A trama de “Equador” mete a personagem a braços com desgostos amorosos e lutas contra a escravidão, enquanto em “Esta noite, a liberdade” os tumultos que originam a independência da Índia, com a morte de Gandhi e a tensão entre os marajás e o poder britânico são o mote. Muitas semelhanças até agora? Nem por isso...
O blogue vai mais longe e afirma que os dois livros têm um início semelhante, partilhando descrições, paisagens, convites, estados de espírito, percepções exteriores. Só pelo facto de o “Esta noite, a liberdade” começar na Londres de 1947, que a personagem atravessa num carro a caminho da casa do primeiro-ministro inglês e no “Equador” a acção começar a bordo de um comboio, do Barreiro para Vila Viçosa em Dezembro de 1905, que a personagem apanha para se encontrar com o rei D.Carlos, parece ser difícil descrever de forma exacta os dois casos.
O assunto principal de “Equador” é a escravatura nas então colónias portuguesas, enquanto a outra obra recai sobre o processo de independência da Índia. Continua a parecer difícil encontrar semelhanças entre os dois temas.
Conforme o próprio Miguel Sousa Tavares explicou várias vezes, a referência que faz à Índia na sua obra, serve apenas para ajudar na construção de uma personagem.
Nas tais três páginas que o autor do blogue acusa Miguel Sousa Tavares de ter copiado, o principal ponto de interesse são as descrições de alguns Marajás indianos, da forma exorbitante como viviam e dos seus gostos extravagantes.
É essencialmente essa parte do romance “Equador” que é baseada no livro “Esta noite, a liberdade”, que ocupa mais de 6 páginas a fazer essas mesmas descrições, baseadas em factos, relatos e documentos reais.
Sousa Tavares socorreu-se dessa obra para caracterizar essas exóticas personagens. Se o gosto de um dos marajás era comer dois a três frangos à hora do chá, outro gostava de caçar tigres ou outro ainda divertia-se a brincar com comboios em miniatura, não há forma de fugir a esses factos.
No total de 518 obras que compõem o romance, Sousa Tavares é acusado pelo tal blogue anónimo de ter copiado três páginas, as que referem as personagens e factos históricos referentes à Índia.
Agora, falta o confronto prometido por Sousa Tavares na capa do 24horas de anteontem: “Isto vai ser resolvido em tribunal e à paulada”.

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