segunda-feira, setembro 11, 2006

Quo Vadis , America? by Bitaites


E foi então que mais de 2700 inocentes perderam a vida.
E foi então que nos apercebemos: fanáticos religiosos tornaram-se argumentistas de Hollywood e produziram um filme-catástrofe exibido em todas as televisões do mundo.
E foi então que a América se apercebeu: as fundações de aço e poder e segurança que sustentavam as torres gémeas do World Trade Center podiam ser derretidas e vergadas e destruídas pela louca determinação dos fanáticos e dos humilhados.
E nenhum Die Hard Bruce Willis se encontrava naqueles arranha-céus correndo descalço sobre tapetes de vidro, matando terroristas e salvando inocentes entre monólogos espirituosos.
E nenhum Governador Schwarzenegger comandava helicópteros de salvamento para retirar as centenas que se refugiaram, indefesos, nos telhados do World Trade Center.
O Super-Homem esteve ausente em planeta incerto e só agora, cinco anos depois, regressou.

Pobre América. Porque continuas tu convencida de que os teus milhares de mortos mudaram o mundo? O mundo mudou com a primeira bomba atómica lançada sobre os civis de Hiroshima. O mundo mudou com o Holocausto. O mundo mudou quando se teceram tapetes de bombas para arrasar cidades inteiras – lembras-te de Dresden, na Alemanha? Ignorante e teimosa América. Porque razão depois destes anos todos ainda não paraste um momento para pensar e perguntar: Meu Deus. Porque fizeram eles isto? Porque razão eles nos odeiam tanto? Que temos andado nós a fazer? Será possível que tenhamos gerado um monstro? Vários monstros?
América de memória curta. Não criaste tu o assassino Osama bin Laden quando te convinha teres carne para canhão contra os comunas no Afeganistão? Não deste tu palmadinhas nos ombros ao sanguinário Saddam Hussein quando ele te fazia o favor de destruir o Irão por ti? Não foste tu que fizeste orelhas moucas ao genocídio dos curdos?
Diz-me, América: quantos inocentes foram queimados pela tocha da Estátua da Liberdade? Será que não percebes que entre aqueles que morreram nas torres e no Iraque existe apenas uma estrada? Um caminho poeirento e cinzento e gasto por milhares de pés sujos, descalços e abandonados – o caminho que a tua Cavalaria percorre quando quer salvar o dia? Que Sol ilumina esse dia que vais salvar, América? Que tipo de Sol é o teu? É feito de compreensão e calor humano ou é o mesmo Sol de napalm do filme de Copolla?
Aprendeste alguma coisa com a tragédia – a tua e as que provocaste? Sentiste o mundo a teu lado quando chorou, disposto a perdoar tantos anos de danos colaterais em nome de todos os teus inocentes que morreram? Que fizeste das nossas lágrimas e do nosso consentimento?
Elegeste o mesmo imbecil. O protector dos falcões que voaram sob os escombros do World Trade Center. Cega pela dor e desejo de vingança, não notaste que as cinzas dos charutos dos poderosos e dos ricos eram feitas dos corpos dos teus mortos.
E, já agora, América, bela e grandiosa nação, país da Liberdade e do Jazz, se não levas a mal a pergunta: que é feito das tuas armas de destruição massiva? Não nos mintas!

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